segunda-feira, 18 de abril de 2011

Espetáculo "Ciranda", por Marcelo Lima


Espetáculo: Ciranda 
Teatro Xirê
por Marcelo Lima*
Orientação: Profª Lais Bernardes


Trajeto: Fundão x Teatro Cacilda Becker. O que? Espetáculo CIRANDA da cia XIRÊ. Tarefa: Avaliar o espetáculo e desenvolver uma escrita crítica. Não nego ter tido um certo desconforto com minha tarefa, mas relaxei e me deixei levar a espera do que viria a acontecer.

Ali sentado, aguardando, já se encontrava o público protagonista, que não mente, que traz no seu olhar a curiosidade de um "mundo novo" a ser decifrado. “Hum”, pensei... “como é bom ser criança”.
“Ih vai começar”! As portas se abrem, e a partir de agora fomos convidados a mergulhar no universo de duas personagens que nos convidam a participar de um mundo de peripécias.
Sentadas em um convidativo tapete colorido, as crianças ficaram mais próximas do que estava por acontecer, elas, inclusive, agora faziam parte daquele sonho. Fazer com que o público fosse parte daquela viagem, foi realmente um belo gol.

O espetáculo traz a bordo personagens que se aproximam das crianças devido ao jogo proposto de contra vontade (o que acontece geralmente quando duas crianças brincam) fazendo com que elas recordem e/ou se imaginem naquelas situações. Conseguindo assim se aproximar ou até mesmo entrar no universo infantil através de uma grande aventura brincante.
A não utilização de texto, o que poderia ser um problema, já que estamos acostumados a irmos ao teatro para entendermos a fábula que será contada, ao contrário, acho que esta iniciativa é de suma importância podendo despertar o subjetivo e o imaginário das crianças, aproveitando que essas ainda não estão presas a certos códigos e convenções já esperados e tão familiares a nós. O grammelot, que não deixa de ser um texto, mas com suas peculiaridades, não impõem significados fixos, deixa livre a compreensão, além de funcionar muito bem, pois é leve e divertido, como na cena inicial em que a atriz está dormindo e sonhando.
O corpo aqui se torna objeto de pesquisa, ele é o foco. As crianças não riem por uma piada falada, o corpo por si só vira o protagonista dessa divertida ciranda, ele ganha formas, seus gestos e suas ações estão pesquisados e treinados para o jogo proposto. O espetáculo, assim, ganha na riqueza, já que tem disponíveis elementos de dança, teatro, circo e música, cada linguagem doando cores ao espetáculo.

Ele, o corpo, já não é mais só do ator ou só do bailarino. Ele pulsa e ganha vida, sem precisar se enquadrar em definições, como diria Eugênio Barba “A tendência de fazer uma distinção entre dança e teatro revela uma ferida profunda, um vazio sem tradição que continuamente expõe o ator rumo a uma negação do corpo e o bailarino para a virtuosidade.”

A sonoplastia é alegre, contagia e ganha força com toda a movimentação das personagens.  Um cenário colorido e atraente conversando com objetos que possibilitam resignificações e que mexe com o imaginário do jovem público, não são só usados de maneira convencional, exemplo disso se dá com a utilização de um guarda chuva que pode virar a roda de um carro e também com o báu onde as personagens surgem propondo ações criativas, interessantes e curiosas.

 Um Baú, pés, mãos, corpo, sono, música, silêncio, colorido, risos, ação, reação, brincadeira, almofadas, sonho... Ufa! Tudo isso é e/ou resulta no espetáculo Ciranda. Agora me dêem licença, porque eu vou “lavar uma mão, lavar outra...” 

* Aluno do curso de Bacharelado em Dança da UFRJ.

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